Usamos cookies para segurança, melhor experiência e personalização de conteúdo de acordo com a nossa Política de Privacidade .
Clique em "Configurar cookies" para gerenciar suas preferências.
Aberto
Cinema
Confira a programação completa abaixo.
Gratuito
A mostra gratuita Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível vai exibir 34 obras, entre filmes e episódios de séries, da cineasta Lucia Murat. O trabalho da diretora percorre as feridas abertas da história de um Brasil recente e contará com quatro debates em torno de temáticas como ditadura, feminismo, desigualdade e povos originários.
O primeiro, sobre ditadura e memória, será na abertura, às 18h, com a participação da cineasta Tata Amaral e de duas ex-presas políticas: a jornalista e escritora Amelinha Teles e a própria cineasta Lucia Murat. A mediação será feita pelo jornalista Luiz Carlos Merten.
A cada semana, o evento terá uma temática central para reunir as obras de Murat e direcionar o debate:
4/6 – quarta-feira
14h – Memória que me contam – Longa-metragem (2012, 100 min, 14 anos)
16h – Que bom te ver viva – Longa-metragem (1989, 97min, 14 anos).
18h – Abertura e Debate: DITADURA E MEMÓRIA.
Convidados: Lucia Murat, Amelinha Teles e Tata Amaral
Mediação: Luiz Carlos Merten
5/6 – quinta-feira
14h – O Pequeno exército louco – Documentário – Média-metragem (1984, 50min, 12 anos)
16h – Uma longa viagem – Documentário – Longa-metragem (2011, 95min, 16 anos)
6/6 – sexta-feira
14h – Quase dois irmãos – Longa-metragem (2004, 102min, 16 anos)
16h – O mensageiro – Longa-metragem (2024, 108min, 14 anos)
7/6 – sábado
14h – Memória que me contam – Longa-metragem (2012, 100min, 14 anos)
16h – Que bom te ver viva – Longa-metragem (1989, 97min, 14 anos)
08/06 – domingo
14h – O pequeno exército louco – Documentário, média-metragem (1984, 50min, 12 anos)
16h – Uma longa viagem – Documentário – Longa-metragem (2011, 95min, 16 anos)
9/6 – segunda-feira
14h – Quase dois irmãos – Longa-metragem (2004, 102min, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
16h – O mensageiro – Longa-metragem, (2024, 108min, 14 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
11/6 – quarta-feira
14h – A nação que não esperou por Deus – Documentário, longa-metragem (2015, 90min, Livre)
16h – Brava gente brasileira – Longa-metragem (2000, 103min, 16 anos)
12/6 – quinta-feira
14h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos):
Na guerra pela terra, 30min
Incendiado vivo, 30min
A morte como solução, 30min
16h – Aprisionados, 30min
A reviravolta, 30min
18h– Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Julião, 30min
13/06 – sexta-feira
14h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos):
Terçados, facões e ferramentas, 30min
Tapajós, um projeto de morte, 30min
Açúcar com estricnina, 30min
16h – O bicho que come cru, 30min
Em troca de um fogão, 30min
O papel aceita tudo, 30min Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
18h – Episódio da série Vestígios do Brasil (12 anos): Terra livre, 30min. Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
14/6 – sábado
14h – A nação que não esperou por Deus – Documentário, longa-metragem (2015, 90min, Livre)
16h – Brava gente brasileira – Longa-metragem (2000, 103min, 16 anos)
15/6 – domingo
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Julião, 30min
15h – Debate: POVOS ORIGINÁRIOS
Convidados: Betty Mindlin, Lucia Helena Vitelle Rangel e Dilmar Puri
Mediação: André Lopes
17h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos) Aprisionados, 30min
A reviravolta, 30min
Terra livre, 30 min
16/6 – segunda-feira
14h – Episódios da série Vestígios do Brasil (2019, 12 anos):
Terçados, facões e ferramentas, 30min
Tapajós, um projeto de morte, 30min
Açúcar com estricnina, 30min
16h – O bicho que come cru, 30min
Em troca de um fogão, 30min
O papel aceita tudo, 30min Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
18h – Na guerra pela terra, 30min
Incendiado vivo, 30min
A morte como solução, 30min
18/06 – quarta-feira
14h – Episódios da série Mulheres no Cinema (1992, 12 anos):
Carmen Santos, 30min
Gilda de Abreu, 30min
16h – Olhar estrangeiro – Documentário, longa-metragem (2005, 70min, 14 anos)
19/6 – quinta-feira
14h – Daisy – Curta-metragem (1992, 20min, 14 anos)
16h – Em três atos – Longa-metragem (2015, 75min, 14 anos)
20/6 – sexta-feira
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Beatriz Ryff, 30min
16h – Ana. Sem título – Longa-metragem (2020, 110min, 14 anos)
21/6 – sábado
14h – Episódio da série Mulheres no Cinema (1992, 12 anos):
Carmen Santos, 30min
Gilda Abreu, 30min
16h – Olhar estrangeiro – Documentário, longa-metragem (2005, 70min, 14 anos)
22/6 – domingo
14h – Daisy – Curta-metragem (1992, 20’, 14 anos)
15h – Debate QUESTÕES FEMININAS
Convidados: Beatriz Bracher, Iara Frateschi
Mediação: Lucia Murat
17h – Em três atos – Longa-metragem (2015, 75min, 14 anos)
23/6 – segunda-feira
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Beatriz Ryff, 30min
16h – Ana. Sem título – Longa-metragem (2020, 110min, 14 anos)
25/06 – quarta-feira
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Antônio Callado, 30min
16h – Doces poderes – Longa-metragem (1997, 93min, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
26/6 – quinta-feira
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Abdias Nascimento, 30min
16h – Maré, nossa história de amor – Longa-metragem (2007, 105min, 16 anos)
27/6 – sexta-feira
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Apolônio de Carvalho, 30min
15h – Praça Paris – Longa-metragem (2017, 110’, 16 anos) Sessão com acessibilidade (legenda descritiva)
28/6 – sábado
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Antônio Callado, 30min
15h – Praça Paris – Longa-metragem (2017, 110’, 16 anos)
17h – Doces poderes – Longa-metragem (1997, 93min, 16 anos)
29/06 – domingo
14h – Episódio da série Testemunho (1992, 12 anos): Abdias Nascimento, 30min
15h – DEBATE DESIGUALDADES
Convidados: Marisa Orth, Lucilene Reginaldo
Mediação: Lucia Murat
17h – Maré, nossa história de amor – Longa-metragem (2007, 105min, 16 anos)
ATIVIDADES PARALELAS - DEBATES
4/6 - quarta, às 18h - Ditadura e Memória
Lucia Murat, Amelinha Teles, Tata Amaral - mediação: Luiz Carlos Merten
15/6 - domingo, às 15h - Povos originários
Betty Mindlin, Lucia Helena Vitelle Rangel, Dilmar Puri - mediador: Luiz Bolognesi
22/6 - domingo, às 15h - Questões femininas
Beatriz Bracher, Iara Frateschi, Bianca Santana - mediação: Lucia Murat.
29/6 - domingo, às 15h – Desigualdades
Marisa Orth, Lucilene Reginaldo - mediação: Lucia Murat.
Lucia Murat soma 14 longas-metragens feitos exclusivamente para as salas de cinema, consolidando-se como a cineasta latino-americana com a maior produção no formato. Em grande parte desses trabalhos, assinou simultaneamente a direção, o roteiro e a produção - um feito notável e raro, mesmo entre os grandes nomes do audiovisual. Premiada em diversos festivais internacionais e nacionais, como Chicago, Miami, Huelva, Havana, Moscou, Mar del Plata, Festival do Rio, Brasília e Gramado, Lucia teve seu último filme - Hora do Recreio (2025) - laureado com a Menção Especial do Júri Jovem na Mostra Generation 14 Plus, da Berlinale de 2025, em Berlim, Alemanha. Aos 76 anos, a cineasta segue usando o audiovisual como meio de conscientização social.
Módulo 1 – Ditadura e memória
O tema da ditadura militar no Brasil e na América Latina é o mais presente na obra de Lucia. Todos os filmes desse programa são, com diferentes graduações, autobiográficos. Catárticos, políticos e pessoais e, talvez, sobretudo por isso, universais na produção de sentidos, espiam e expiam os erros e acertos de uma geração que se engajou na luta política no país.
Que bom te ver viva (1989)
O filme aborda a tortura durante o período da ditadura militar no Brasil, mostrando como suas vítimas sobreviveram e como encaram aqueles anos de violência duas décadas depois. Que bom te ver viva mistura os delírios e fantasias de uma personagem anônima, interpretada pela atriz Irene Ravache, alinhavado aos depoimentos de oito ex-presas políticas brasileiras que viveram situações de tortura.
Mais do que descrever e enumerar sevícias, o filme mostra o preço que essas mulheres pagaram, e ainda pagam, por terem sobrevivido lúcidas à experiência da tortura. Para diferenciar a ficção do documentário, Lúcia Murat optou por gravar os depoimentos das ex-presas políticas em vídeo, como o enquadramento semelhante ao de retrato 3×4; filmar seu cotidiano à luz natural, representando assim a vida aparente; e usar a luz teatral, para enfocar o que está atrás da fotografia – o discurso inconsciente do monólogo da personagem de Irene Ravache.
Quase dois irmãos (2004)
Nos anos 70, quando o país vivia sob a ditadura militar, muitos presos políticos foram levados para a Penitenciária da Ilha Grande, na costa do Rio de Janeiro. Da mesma forma como os políticos, assaltantes de bancos também estavam submetidos à Lei de Segurança Nacional. Ambos cumpriam pena na mesma galeria. O encontro entre esses dois mundos é parte importante da história da violência que o País enfrenta hoje. Quase dois irmãos mostra como essa relação se desenvolveu e o conflito estabelecido entre eles. Entre o conflito e o aprendizado, nasceu o Comando Vermelho, que mais tarde passou a dominar o tráfico de drogas.
Através de dois personagens, Miguel, um jovem intelectual de classe média preso político na Ilha Grande, e hoje deputado federal, e Jorge, filho de um sambista que de pequenos assaltos se transformou num dos líderes do Comando Vermelho, o filme tem como pano de fundo a história política do Brasil nos últimos 50 anos, contada também através da música popular, o ponto de ligação entre esses dois mundos. Hoje, começa um novo ciclo: Miguel tem uma filha adolescente, que fascinada pelas favelas e pela transgressão, se envolve com um jovem traficante.
Uma longa viagem (2011)
A história de três irmãos, com a linha dramática dada pela história do caçula, que vai para Londres em 1969, enviado pela família para não entrar na luta armada contra a ditadura no Brasil, seguindo os passos da irmã. Durante os nove anos em que viaja pelo mundo, ele escreve cartas. Contrapondo-se à entrevista e às cartas, os comentários em off da irmã, presa política que virou cineasta e viaja pelo mundo, num processo inverso ao do irmão que, de viajante livre, foi obrigado a enfrentar diversos problemas. Um documentário que trabalha sobre a memória, não só pela forma como é feita a investigação, mas também sobre o motivo do filme: a morte do terceiro irmão.
A memória que me contam (2012)
Um drama irônico sobre utopias derrotadas, terrorismo, comportamento sexual e a construção de um mito. Um grupo de amigos, que resistiram à ditadura militar, e seus filhos vão enfrentar o conflito entre o cotidiano de hoje e o passado quando um deles, Ana, está morrendo. Ex-guerrilheira e um ícone da esquerda, ela é o último elo desse grupo de amigos. Na sala de espera de uma casa de saúde, eles se reencontram. Narrado como um quebra-cabeça, o filme vai mostrar Ana apenas quando jovem, em flashback, como se ela nunca tivesse saído dos anos 60. Jovem, linda e perigosamente frágil.
Como pano de fundo para essas questões, A memória que me contam vai acompanhar o dia a dia dos personagens principais hoje. Irene, cineasta, está editando um filme que tem a ver com os anos 60. O casal, Carlos, artista plástico, e Zezé, curadora, trabalham com arte contemporânea. Eduardo, filho de Irene, é um jovem artista em ascensão e tem uma relação amorosa com Gabriel, filho de Ricardo, um ex-militante hoje professor, que do ponto de vista comportamental é extremamente conservador.
Cada um dos personagens na sala de espera traz uma questão que liga os anos 60 a questões atuais. Paolo, refugiado no Brasil acusado de pertencer às Brigadas Vermelhas, traz a discussão do terrorismo para hoje. Por que ele ainda é visto como um bandido e os personagens brasileiros são heróis? O que mais distinguia a realidade da guerrilha no Brasil, que vivia uma ditadura, da Itália dos anos 70?
Mas hoje diante da possibilidade da perda de Ana o que interessa a todos os amigos ali reunidos é o afeto que os une. Um pedido de extradição feito pela Itália ocasiona a prisão de Paolo no Brasil. Todas as discussões se acirram, inclusive com Zé Carlos, atual Ministro do Governo.
Paralelamente a esse grupo, a geração de jovens, filhos daqueles ex-militantes, entra em conflito com os mais velhos. Todos têm uma profunda admiração pelos pais, não escapam do mito em torno da resistência à ditadura, têm até uma certa inveja desse passado “heroico”. No entanto, as contradições na vida profissional e comportamental vão pouco a pouco acentuar as diferenças.
O mensageiro (2023)
Vera, presa numa fortaleza militar durante a ditadura, em 1969, conhece um soldado, Armando, que, diante da tortura decide levar uma mensagem para a família de Vera. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com D. Maria, mãe de Vera. Apesar dos horrores do tempo, o filme trabalha sobre a possibilidade de um diálogo entre duas pessoas solitárias e perdidas, uma senhora de alta classe média e um jovem de origem rural que veio do Sul para servir o exército. Hoje, Vera, aos 70, é uma professora na universidade que debate com seus alunos sobre política, perdão e Hannah Arendt.
O pequeno exército louco (1984)
Média metragem de 52 min. Primeiro documentário da diretora, filmado na Nicarágua em codireção com Paulo Adário, entre 1978 e 1979, mostra a conquista do país pelos sandinistas e a derrubada do ditador Anastasio Somoza.
Módulo 2 – Povos originários
Dois longas, Brava gente brasileira (2000) e A nação que não esperou por Deus (2015), doze episódios da série Vestígios do Brasil, dedicada aos povos originários, e um episódio da série Testemunhos, com Francisco Julião Arruda Paula, líder do movimento das ligas camponesas no Nordeste em 1955, apresentam um olhar sobre as inúmeras violências sofridas pelos indígenas ao longo de mais de 500 anos e as lutas por terras no Brasil.
Brava gente brasileira (2000)
Pantanal, 1778, região do Médio-Paraguai, um grupo de soldados acompanha Diogo, astrônomo, naturalista e cartógrafo, recém-formado em Coimbra, que chega à região para fazer um levantamento topográfico para a Coroa Portuguesa. A coluna se encaminha para o Forte Coimbra, permanentemente assediada pelos índios cavaleiros, os guaicurus, com quem Portugal está tentando um acordo de paz. No caminho do forte, um batedor descobre um grupo de mulheres índias tomando banho num rio. Em meio a alguns desencontros, os soldados estupram as mulheres. Três personagens se destacam: Pedro, que chefia o grupo e é particularmente feroz, Diogo, que terá de confrontar sua formação “ilustrada” com a dura realidade da colônia, e Antônio, que carrega um mapa secreto com a localização de supostas minas de prata. Todos se envolvem na carnificina, até mesmo Diogo, a quem Pedro entrega uma índia que tinha se escondido na mata. Diogo impede Pedro de assassinar a índia e todos seguem para o forte.
Ali, o comandante vive com uma índia de outra tribo – Guaná, já catequizada e aculturada – os conflitos crescem. O filme vai trabalhar em torno destas relações, em que os conceitos começam a se desintegrar. Assim é o conflito de Diogo entre a lembrança da noiva virgem portuguesa e a atração culpada pela índia; ou as tentativas do comandante em conciliar os dois mundos; ou ainda a ferocidade de Pedro, que caminha enlouquecido numa ânsia crescente de violência como se buscasse um limite que o Novo Mundo não lhe dá. Finalmente, a fantasia de Antônio em torno das minas de prata que lhe toma corpo e alma, deixando-o incapaz de lidar com a realidade. O período das chuvas e da cheia vai significar uma trégua na luta com os guaicurus. Quando as águas começam a baixar, a possibilidade de paz ressurge. Mas uma surpresa ocorre.
A nação que não esperou por deus (2015)
Em 1999, Lucia Murat filmou Brava gente brasileira, um filme de época que contou com a participação dos índios Kadiwéu, que vivem no Mato Grosso do Sul. A nação que não esperou por deus é um documentário sobre essa tribo, feito em 2013/2014 pela mesma diretora, com a codireção de Rodrigo Hinrichsen, assistente de direção de Brava gente brasileira. Nesses 15 anos, a luz elétrica chegou à aldeia, e com ela a televisão, as novelas e todo o mundo do entretenimento. Cinco diferentes igrejas evangélicas se estabeleceram na reserva, todas liderados por pastores índios. Ao mesmo tempo, os Kadiwéu voltaram a lutar pela demarcação de suas terras, retomando áreas em mãos de pecuaristas. O documentário procura mostrar esses diferentes caminhos.
Julião – vídeo Episódios da série Testemunho (1992 e 1993) – 30min
Francisco Julião (1915- 1999), advogado, deputado federal, escritor e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que liderou politicamente o movimento camponês conhecido como ligas camponesas, conta a história da formação e dos trabalhos das ligas, organizações que lutavam pela distribuição de terras e os direitos para os trabalhadores rurais nos anos 50. Entre 1940 e 1955, Julião defendeu inúmeros camponeses que viviam como parceiros ou arrendatários de terra contra a secular estrutura latifundiária no Brasil, deflagrando o movimento da reforma agrária no país.
Vestígios do Brasil (2018) – Série audiovisual
Série em 12 episódios feita para a televisão será exibida pela primeira vez integralmente no cinema. Os episódios foram roteirizados a partir de fatos ocorridos durante a vigência do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) e foram denunciados pelo Relatório Figueiredo, que esteve desaparecido durante a ditadura e foi recuperado pela Comissão da Verdade. Estudando o relatório, as antropólogas e roteiristas selecionaram 11 etnias que sofreram abusos. A equipe da série foi a cada reserva procurar vestígios da violência e saber como e se os indígenas tinham sobrevivido.
Episódios
Açúcar com estricnina – O Massacre do Paralelo 11, quando aviões atiraram bombas e sacos de açúcar envenenados com estricnina sobre as aldeias, resultando na morte de cerca de 3.500 indígenas da etnia Cinta Larga.
Aprisionados – Os Kaingang, indígenas do sul do Brasil – terra com grande presença de colonos perderam suas terras em prol do “progresso nacional” e foram cruelmente espancados. O caso do indígena Narcizinho, torturado até́ a morte em uma prisão do SPI em Cacique Doble, no Rio Grande do Sul, é contado.
A morte como solução – Retrata a história dos Guarani Kaiowá, que foram removidos de suas terras, atacados, perseguidos e vivem em situação de miséria até́ hoje. A falta da demarcação de terras levou a etnia a ser aquela com maior índice de suicídio entre jovens, na maioria das vezes por enforcamento.
A reviravolta – Retrata a revolta dos Kaigang de Nonoai, que após anos de violências, escravidão e arrendamento de terras pelo SPI, expulsaram milhares de colonos de suas terras, no ano de 1978.
Em troca de um fogão – A exploração dos bororo por agentes do SPI e o impacto da chegada dos missionários salesianos na região de Merure são mostrados. O caso da menina bororo Rosa dada como escrava para um fazendeiro em troca de um fogão é uma das histórias relatadas.
O bicho que come cru – O massacre aos Canela, em 1963, no Maranhão, onde os sobreviventes reconstruíram a aldeia e mantém vivo o modo de vida da etnia.
O papel aceita tudo – O depoimento de Lalico, preso e espancado pelo chefe do Posto da Fraternidade Indígena quando pequeno, é uma das inúmeras violências narradas contra os Umutina que aconteciam nos postos indígenas.
Incendiado vivo – Retrata a violenta desapropriação de terra dos Pataxó Hã-Hã-Hãe no Sul da Bahia, desde meados dos anos 30. O conhecido caso do Cacique Galdino, incendiado vivo por cinco jovens da elite de Brasília em 1997, se tornou o símbolo da luta dos Pataxó́ pela terra.
Na guerra pela terra – Os guerreiros Kadiwéu, que receberam seu território de Dom Pedro II em troca de sua participação na guerra do Paraguai, tiveram suas terras desapropriadas pelo SPI. As artimanhas jurídicas, que serviram de justificativa ao esbulho feito pelos pecuaristas nesse território, são apresentadas.
Tapajós. Um projeto de morte – Narra o contato entre o SPI e os Munduruku contado a partir dos ciclos de exploração dos recursos naturais da bacia do Tapajós, como da borracha. Na época do filme, eles lutavam contra a construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós, que alagaria parte da Terra Indígena Sawré Muybu. Hoje, arquivado pelo Ibama.
Terçados, facões e ferramentas – As denúncias realizadas pelo frei Roberto de Arruda, comandante da expedição pacificadora nas terras Wari. O indígena A ́aim fala da situação de desespero e morte decorrente das doenças trazidas pelos brancos.
Terra Livre – A trajetória de luta das lideranças pela demarcação das terras indígenas a partir da manifestação Terra Livre. Filmado em Brasília, em 2018.
Módulo 3 – Questões femininas
O feminino é um dos temas presentes na obra de Lucia. Os estereótipos da mulher brasileira presentes em Olhar estrangeiro (2005); as dificuldades dos processos de envelhecimento e de finitude do corpo feminino na homenagem à bailarina e coreógrafa Angel Vianna em Em três atos (2015); a troca entre mulheres latino-americanas durante o período das ditaduras militares no continente em Ana. sem título (2020); a trajetória de duas pioneiras do cinema brasileiro retratadas em dois episódios da série Mulheres no Cinema, Carmen Santos e Gilda Abreu; e Daisy das almas deste mundo, episódio curto para o filme Oswaldianas (1992), baseado na obra de Oswald de Andrade, exemplificam sua preocupação com a questão da mulher.
Olhar estrangeiro (2005)
Olhar estrangeiro é um documentário sobre os clichês e as fantasias que se avolumam pelo mundo afora sobre o Brasil. Baseado no livro O Brasil dos gringos, de Tunico Amâncio, o documentário mostra a visão que o cinema mundial tem do país. Filmado na França (Lyon e Paris), Suécia (Estocolmo) e EUA (Nova York e Los Angeles), o filme, por meio de entrevistas com os diretores, roteiristas e atores, desvenda os mecanismos que produzem esses clichês.
Em três atos (2015)
“Quando uma intelectual de 80 anos é confrontada com questões da velhice e da morte, ela se vê 30 anos antes enfrentando a morte de sua mãe. De forma poética, Em três atos contrapõe dança contemporânea, através de uma bailarina de 85 anos e uma jovem bailarina em seu auge, com diálogos inspirados nos escritos de Simone de Beauvoir sobre a velhice e a morte. O projeto pretende revelar a crueza de um corpo velho, e lida com a diferença entre a experiência de perder alguém para a morte e o medo de morrer. Em três atos é um filme sobre o ciclo da vida, que trabalha o “corpo” através do espetáculo de dança contemporânea e a “palavra” a partir de textos de Simone de Beauvoir.
Ana. Sem título
Stela, uma jovem atriz brasileira, decide fazer um trabalho sobre as cartas trocadas entre artistas plásticas latino-americanas nos anos 1970 e 1980. Viaja para Cuba, México, Argentina e Chile à procura de seus trabalhos e de depoimentos sobre a realidade que elas viveram durante as ditaduras que a maior parte desses países enfrentaram na época. Em meio à investigação, Stela descobre a existência de Ana, uma jovem brasileira que fez parte desse mundo, mas desapareceu. Em 1968, Ana foi do sul do Brasil, de uma pequena cidade do interior, para a efervescente Buenos Aires, que vivia um momento de mudança nas artes plásticas e no comportamento. Obcecada pela personagem, Stela resolve encontrá-la e descobrir o que aconteceu com ela.
Carmem Santos e Gilda de Abreu (1992) – vídeo Episódios da série Testemunho – 30min
Documentários sobre Carmem Santos e Gilda de Abreu, duas pioneiras, as primeiras mulheres brasileiras a dirigirem filmes no Brasil. Carmem Santos foi também uma grande produtora, uma mulher à frente do seu tempo, e Gilda foi responsável por um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional, com o filme O ébrio.
Daisy das almas desse mundo (1992)
Inspirado no livro de Oswald de Andrade “O perfeito cozinheiro das almas desse mundo”, conta a trágica história de Daisy, jovem normalista que frequentava a garçonière de Oswald no início do século em São Paulo.
Beatriz Bandeira Ryff – vídeo Episódios da série Testemunho (1992 e 1993) – 30min
A escritora Beatriz Bandeira Ryff (1909-2012), símbolo de luta pelos direitos humanos e pela garantia das liberdades democráticas, conta a história das mulheres que participaram do Levante Comunista de 1935 no Brasil. Presa pela ditadura Vargas, Bandeira dividiu a famosa cela 4 com Olga Benário (esposa do líder do Levante, Luiz Carlos Prestes), a futura psicanalista Nise da Silveira, a advogada Maria Werneck de Castro e as jornalistas Eneida de Moraes e Eugênia Álvaro Moreyra. Na Aliança Nacional Libertadora (ANL), Beatriz conheceu seu marido, Raul, que viria a ser jornalista e secretário de imprensa do governo João Goulart (1961-1964). Os dois foram exilados duas vezes. Em 1936, foram expulsos para o Uruguai, e, em 1964, após o golpe militar, receberam abrigo na Iugoslávia e, posteriormente, na França.
Módulo 4 – Desigualdades
Três longas, Doces poderes (1997), Maré, nossa história de amor (2007), e Praça Paris (2017), e três episódios da série Testemunhos vão abordar temas que falam das causas das desigualdades socioeconômicas que se perpetuam no país e das lutas pelos direitos humanos e a consolidação da democracia.
Doces poderes (1997)
Jornalista chega a Brasília para assumir, durante período eleitoral, a chefia da sucursal da principal rede de TV do país. O antigo diretor está indo chefiar a campanha de um jovem candidato a governador, apoiado por políticos conservadores, que utiliza um discurso entre o populista e o moderno. Metade dos profissionais está se retirando, sob as mais variadas desculpas, para ganhar salários milionários nos mais diferentes estados como Rondônia, Pará, Paraná e outros. Aceitaram fazer campanha política para todos os tipos de candidatos, sem qualquer critério, político ou ético. Esses profissionais vão surgir, ao longo de todo o filme, em depoimentos nas ilhas de edição. Os mais variados discursos – desde a crise econômica até a falta de perspectiva desse fim de século – justificam suas opções.
Por meio destes discursos, o filme mostra o desenvolvimento das campanhas e os conflitos vividos por estes personagens. A jornalista, por sua vez, está em crise diante do que se passa em sua profissão. Na redação, destaca-se o novo chefe de reportagem, um rapaz eficiente, de outra geração, preocupado acima de tudo com sua carreira na televisão. A jornalista encontra um deputado ex-militante de esquerda, amor de adolescente, casado, com uma vida tradicional, com quem volta a estabelecer uma relação. Forma-se, então, um triângulo amoroso envolvendo estes três personagens, onde, além das diferenças de idade e de formação, questões como o poder da mídia e o papel do jornalista no mundo de hoje vão desafiá-los.
Todos os personagens vão se deparar, durante o filme, com situações ambíguas e eticamente discutíveis. Não existe mais preto e branco e todos se encontram diante dessa estranha realidade cinza. O deputado, para poder emplacar seu partido, faz frente em outros estados com candidatos à direita. A jornalista vê seu trabalho manipulado pela direção da emissora. E a própria campanha em Brasília vai num crescendo de apelações e utilizações pessoais. A reação a estas manipulações e a todas estas contingências, entremeada por reencontros e desencontros afetivos, é a história deste filme.
Maré, nossa história de amor (2007)
O filme é um musical, uma adaptação livre da história de Romeu e Julieta passado numa favela carioca. Ao invés das famílias que se odeiam temos duas facções do tráfico de drogas que dividem a comunidade. Maré, nossa história de amor é um grande caldeirão cultural em que a força de todas as artes, que são feitas na periferia, está retratada.
Analídia é filha de um chefe do tráfico de drogas preso, que briga pelo poder com o irmão de Jonatha, na favela da Maré. Separados pelo ‘apartheid’ entre as facções rivais, eles encontram no grupo de dança da comunidade, dirigido por Fernanda, um refúgio para o amor, a arte, o sonho e a possibilidade de uma vida longe do crime.
Jonatha é MC da comunidade e seu sonho é gravar um CD. Dividido entre os irmãos mais velhos – Paulo, idealista, trabalhador e amante do samba e Dudu, irmão adotado, chefe de uma das facções que comandam o tráfico na favela, ele vive o dilema de aceitar ou não a ajuda deste último, que promete financiar sua carreira com o dinheiro das drogas.
Praça Paris (2017)
Praça Paris é um thriller que mostra o conflito entre uma psicanalista portuguesa, Camila, que veio ao Brasil desenvolver uma pesquisa sobre violência, e sua paciente, Glória, em um Centro de Terapia de uma universidade brasileira (UERJ). Glória é ascensorista na universidade e tem uma história de violência muito difícil: estuprada pelo pai, tem apenas no irmão, Jonas, traficante do morro, a proteção que procura. O filme mostra uma relação de transferência ao inverso, onde o medo do outro acaba dominando a trama.
Episódios da série Testemunho, idealizada pelo Professor Darcy Ribeiro, levada ao ar pela TV Manchete, entre 1992 e 1993, que ouviu importantes personagens da história política brasileira.
Abdias Nascimento
Abdias Nascimento (1914 – 2011) conta a história do ator, diretor, dramaturgo, poeta, escritor, artista plástico, professor universitário, político, ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras. Criador do Teatro Experimental do Negro (TEN), primeira companhia a promover a inclusão de artistas afrodescendentes no panorama teatral brasileiro, entre 1944 e 1968, Abdias conta como começou sua trajetória de luta na década de 1930, na Frente Negra Brasileira, em São Paulo. O TEN, criado no Rio de Janeiro, que lançou grandes nomes do teatro, como o do próprio Abdias e de Lea Garcia, fechou quando, perseguido pela ditadura militar, ele se exilou por treze anos. Foi professor emérito na Universidade de Buffalo em Nova York por dez anos, idealizador do Movimento Negro Unificado (MNU) e atuou em movimentos nacionais e internacionais como a Frente Negra Brasileira e o Pan-Africanismo. Sua militância contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra o tornou um dos maiores nomes dos direitos humanos no Brasil e no mundo.
Apolônio de Carvalho
Apolônio de Carvalho (1912-2005), militante comunista de origem militar que lutou em três países: Brasil, Espanha e França. Apolônio lutou contra o fascismo na guerra civil espanhola e na resistência francesa na II Guerra Mundial, e foi da militância armada contra duas ditaduras no Brasil, a de Vargas e a militar. Se engajou na luta pelos ideais socialistas desde seus anos como cadete na Escola Militar de Realengo. Expulso do Exército em 1936, foi do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), e um dos fundadores do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCRB), uma dissidência do PCB, e do Partido dos Trabalhadores (PT). Preso e torturado durante a ditadura militar, foi trocado, em 1970, pelo embaixador da Alemanha Ocidental, Ehrenfried von Holleben, sequestrado no Rio de Janeiro. Voltou ao Brasil com a anistia, em 1979.
Antônio Callado
Antônio Callado (1917 – 1997), conhecido jornalista e escritor brasileiro conta nesse episódio sua experiência na Segunda Guerra Mundial quando trabalhou na BBC em Londres. Fala também sobre suas experiências para realizar o livro “Quarup” e sobre as diversas situações políticas que viveu, sempre combatendo pela democracia. Durante a ditadura militar foi preso duas vezes em função de seus compromissos políticos.